MUSEU DO TRANSPORTE PÚBLICO GAETANO FEROLLA




OS BONDES




São Paulo, em 1860, possuía pouco mais de 20.000 habitantes. O movimento comercial era pequeno e não haviam indústrias. Para alcançar bairros distantes alugava-se carro de bois.

Em 1865 surgiu o primeiro sistema regular de transportes. O Sr. Donato Severino, aos 21/08/1865, iniciou seus serviços de aluguel, oferecendo carros e tílburis, estacionados no Largo da Sé.

Em 12 de outubro de 1872, os primeiros "bonds" trafegaram em São Paulo. Eram carros de cinco bancos, importados dos Estados Unidos, denominados "diligências tiradas por animais".

Por cerca de 28 anos os bondes-diligências e seus bíblicos muares satisfizeram as necessidades de movimentação dos paulistanos. Esses veículos, quando em declive, desciam a ladeira seguidos dos burros, enquanto os condutores equilibravam o veículo no breque. A célebre frase "colocar o carro na frente dos bois" é de autoria de Oswald de Andrade, alusivo à época dos bondes puxados a burro.

Em 1899 estabeleceu-se em São Paulo, a "The São Paulo Tramway, Light & Power Co. Ltd.", dirigida por Canadenses. A cidade de São Paulo já contava com cerca de 238.000 habitantes e a Light ganhava a concessão por quarenta anos para a construção e utilização de linhas de bondes.

Os primeiros bondes iniciaram o tráfego na cidade de São Paulo, em 7/05/1900. Na inauguração houve muita festa, e a primeira linha era o percurso São Bento - Barra Funda, conhecida por "13". Em 24 de junho de 1900, menos de dois meses após a inauguração da primeira linha, foi inaugurada a da Paulista.

Nos anos 10 e 20, os bondes da Light já faziam parte do cotidiano da cidade. Haviam acidentes com automóveis e atropelamentos. Os acidentes eram manchetes de jornais da época, e serviam de motivo para a imprensa criticar a imprudência dos condutores dos mesmos.

Por volta de 1926, São Paulo começou a crescer de forma desordenada, e a periferia não dispunha de condução para o centro, sendo que o transporte coletivo já era considerado deficiente. Os bondes e ônibus não conseguiam atender à população.

A partir desse ano começaram a circular os bondes fechados, pesados e pintados de vermelho. Foram batizados de "Camarão". Havia também o "Jacaré", um bonde todo verde que fazia a linha para Santo Amaro.

Em 1947 chegou à São Paulo o bonde "Centex", o qual ficou conhecido popularmente por "Gilda". "Gilda" era um filme estrelado por Rita Hayworth.

Em 1963 os bondes mudaram de cor, passando de vermelho para uma tonalidade laranja, lembrando um dos refrigerantes da época, "Crush"'.

Desde a emancipação das linhas de bondes elétricos, o preço das tarifas não satisfaziam os dirigentes da Light. Frustrada em seus planos de obter a revisão de tarifas, em 1926, a Light direcionou todos os seus recursos e atenções para a geração e distribuição de energia elétrica nos 74 municípios de sua concessão exclusiva. A Light passou, então, a apenas cumprir o tempo para chegar ao término do contrato, previsto para 1941.

Em função de um Decreto por parte do Governo Federal, a Light prosseguiu até 18/06/1947, quando foi instituído o monopólio dos transportes coletivos na Capital.

Para administrar o monopólio foi criada a CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos). À zero hora do dia 1º/07/1947, a CMTC assumiu os serviços de bondes.

O patrimônio encontrava-se decadente e ultrapassado. As tarifas haviam permanecido inalteradas por 36 anos e os tempos já eram bem outros; os ônibus e "trolleybus" concorriam com os bondes. Foram feitas tentativas de recuperação. Novos veículos foram adquiridos, os serviços reformulados, mas não logrou-se êxito.

Na década de 60 teve início a sistemática extinção de linhas e os serviços foram ficando precários e deficientes. Era o fim de um transporte barato e não poluidor. Dos velhos bondes paulistanos só restam exemplares em museus, e suas imagens na memória, feitas por fotógrafos amadores da Light.

Aos 27 de março de 1968, na estação de bondes da Vila Mariana, o bonde camarão número 1543 recebe todas as atenções: era anunciada a "Cerimônia do Adeus".

À tardinha é conduzido até a parada Instituto Biológico, onde havia intensa movimentação de pessoas vindas de todos os cantos da cidade. A linha Biológico - Santo Amaro (antiga Praça da Sé - Santo Amaro) era a última em São Paulo.

Por volta das 20h00, o 1543 parte em direção ao bairro de Santo Amaro. A comitiva eram de 12 bondes, lotados de populares, sendo que no 1543 encontravam-se o Prefeito Faria Lima e o Governador Abreu Sodré. Nas paradas Campo Belo e Alto da Boa Vista receberam homenagens.

O fim da viagem de ida aconteceu no Largo 13 de Maio, onde perto de 5.000 pessoas aplaudiram a chegada dos bondes. Após os discursos e despedidas, a comitiva retornou para Vila Mariana. Foi a última vez que os bondes percorreram as ruas de São Paulo.