KM 223,773
Inaugurada a 07/12/1881
Uso atual: divisão da Prefeitura do Município de Descalvado
Em 1874, a Paulista começou a se interessar pela vila de Bethlem do Descalvado, por sua quantidade enorme de cafezais. Depois de várias idas e vindas, a Cia. finalmente resolveu levar os trilhos para lá apenas em 1880, quando se concretizou o fato de que ela não poderia cruzar o rio Mogi em Porto Ferreira. A construção se iniciou nesse mesmo ano, mas demorou bastante devido às chuvas torrenciais. Somente em meados de 1881 é que se decidiu o local da estação, fora da cidade, em terreno doado por Manoel Batista da Cruz Tamandaré, proprietário da fazenda Boa Esperança. Primeiro foi construído o armazém de cargas, cujos tijolos vieram de Pirassununga e que abrigaria provisoriamente também o terminal para passageiros; a alvenaria ficou a cargo do sub-empreiteiro José Pera. Para não confundir com outras duas estações que também se chamavam Bethlem, uma na S.P.R. (atual estação de Francisco Morato) e outra na E. F. Dom Pedro II, a estação foi denominada somente Descalvado. Somente em 1883 é que se construiu o prédio definitivo para passageiros, prédio este que recebeu o Imperador Pedro II, três anos depois, honra máxima para uma cidade, na época. A Família Imperial hospedou-se numa casa na cidade que já foi inexplicavelmente demolida. Uma reforma na estação, nos anos 10, deu-lhe o aspecto atual. Desde 1891, ela tinha duas plataformas, a menor delas para embarcar os trens do Ramal Descalvadense, construído por particulares com bitola de 60 cm, e vendido à Paulista nesse ano. Ele era conhecido com o "trenzinho", em comparação com o "trenzão", da Paulista, e seguia por treze quilômetros até a estação de Aurora, passando no meio de fazendas de café. O trenzinho foi desativado em 1960. O trenzão saiu pela última vez de Descalvado em 31 de julho de 1976, deixando somente trens de carga que foram mingüando até acabarem, cerca de dez anos depois, deixando a estação fechada e abandonada até 1995, quando se iniciaram as obras para sua restauração pela Prefeitura. Em 1996, os trilhos foram retirados de dentro da cidade. (Ralph Mennucci Giesbrecht – do seu livro "A Estrada do Mogy-Guassú – A História dos ramais ferroviários de Descalvado e de Santa Veridiana")
26/09/1882 - NOMEAÇÃO PELA CÂMARA DA COMISSÃO DE HOMENS
PARA DESENVOLVIMENTO DA FESTA INAUGURAL DA ESTAÇÃO:
Dr. Ângelo Pires Ramos,
Tenente Antonio Leocádio de Matos, Antônio de Camargo Campos, Tenente Coronel
José Ferreira de Figueiredo, Capitão Francisco José de Araújo Lima, Dr. Vítor
Meyer, Major Arthur Horácio D’Aguiar Whitaker, Tenente Antonio José de Araújo,
José Elias de Toledo Lima, Antonio Franco de Arruda, Antonio Gonçalves Correia
de Meira, Frederico Eduardo de Aguiar Whitaker, Francisco de Paula Carvalho,
Gabriel Amâncio Lisboa, José Nunes da Costa, Bernardino de Sena Mota Magalhães,
Manoel Martins de Oliveira, Dr. João de Cerqueira Mendes, Antonio Augusto
Bezerra Paes, Dr. Francisco José Gonçalves Agra, Dr. Manoel Joaquim da Silva
Filho, João Baptista Pereira Marques, Bernardo José da Cunha, José Honório
Pereira de Castro, Jorge Blackburn, Joaquim Pedro Teixeira, Severiano João da
Cruz e Zacarias Pereira de Souza.)
07/11/1882 - Chegada do
primeiro trem da Cia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, por linha férrea de bitola
larga (1,60 metros) na estação de Descalvado, que foi construída em
terreno doado pelo Dr. Manoel Batista da Cruz Tamandaré, proprietário da Fazenda
Boa Esperança (Tamandaré). A ferrovia ligava Descalvado a Capital paulista em
trajeto de 285 km, que era percorrido em 5 horas e 8
minutos.
01/10/1886 - Constituição da
Comissão de Honra para recepcionar o Imperador D. Pedro II (Composta por Dr. João de
Cerqueira Mendes, Coronel Rafael Tobias de Oliveira, Capitão José Elias de
Toledo Lima, Capitão Sebastião de Oliveira Penteado, Tenente Antonio Leocádio de
Matos, Tenente Coronel José Ferreira de Figueiredo, Dr. Cândido Augusto
Rodrigues, Dr. Salvador Meyer de Vasconcellos, Francelino de Almeida Lisboa, Dr.
Amâncio Guilhermino de Oliveira Penteado, Capitão Evaristo de Cerqueira Leite,
Olímpio Catão, Dr. João dos Santos Paraíba, Dr. Antonio de Cerqueira
Lima)
31/10/1886 - Visita de D.
Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina (Conto de Luiz Carlindo
Arruda Kastein)
A visita do
Imperador Pedro II a Descalvado foi rápida. O motivo: era necessário conter o
crescimento do Partido Republicano no Município que na época era o terceiro
maior produtor de café da região de Ribeirão Preto com 400 mil arrobas, além de
produzir o afamado fumo “Tomé”.
Chegaram de trem. O dia estava muito quente e a Imperatriz não quis
visitar a cidade devido o calor e seu problema no andar, sendo recepcionada por
uma comitiva de senhoras no próprio vagão imperial. Em nome da comitiva a garota
Maria Grassi, entregou flores à Imperatriz dando as boas vindas. O Imperador e
comitiva subiram a atual Avenida Guerino-Oswaldo até atingir o centro da cidade
onde visitaram a Igreja Matriz. O único documento oficial registrando a visita
de Pedro II, encontra-se às folhas 80 do 2º Livro do Tombo da Paróquia de Nossa
Senhora do Belém: “Aos 31 de outubro de 1886, às 2 ½ horas da tarde, chegaram a
esta Vila, suas Majestades Imperiais. Da estação (onde ficou Sua Majestade a
Imperatriz), o Imperador, dirigiu-se à esta Matriz, elegantemente adornada, em
cujo vestíbulo foi recebido pelo respectivo Pároco, Cônego Braga, que conduziu-o
à Capela do Santíssimo Sacramento, onde o augusto Soberano fez oração; e
retirou-se, deixando entregue ao Vigário a quantia de cem mil réis, para ser
distribuída entre os pobres desta Vila. Neste mesmo dia, suas Majestades
Imperiais, foram pernoitar na
cidade de Araras. E para constar lavro o presente termo. O Vigário Cônego
Francisco Teixeira de Vasconcellos Braga.” A Câmara
Municipal estranhamente nada registrou nos seus anais sobre a visita, com toda
certeza prevaleceu nos edis da época, os princípios republicanos, tanto é
verdade que nenhum deles, nem mesmo o seu Presidente, e, que pela Constituição
da época, acumulava o cargo de Prefeito: Major Artur Horácio D’Aguiar Whitaker,
fez parte da comissão de honra que recepcionou os Imperadores na estação
ferroviária. Era Presidente do Partido Republicano, que ganhava força política
na cidade o cartorário Antonio Augusto Bezerra Paes. Conta a tradição que por um
de seus empregados, mandou entregar ao Imperador, na estação, um cacho de
banana, como que a insinuar ser D. Pedro II, o Rei dos Macacos. Pedro II
mantinha uma tradição em todas suas visitas: libertar um preso e conceder a um
cidadão ilustre um título de nobreza. Na cadeia pública que ficava logo atrás da
Igreja Matriz encontrou um único preso. Era um escravo que havia decepado a
cabeça de seu feitor. Irritado não o libertou. Dirigiu-se então à residência do
Capitão José Elias de Toledo Lima, que ficava ao lado da Matriz, onde hoje é a
Sede Social da Paróquia. Ali descansaria por alguns minutos. Conta a tradição
que na sala principal da casa do Capitão havia um grande quadro do Imperador,
coberto de pó e teia de aranha. Quando este perguntou do motivo, recebe de
imediato a resposta: “colocado naquela
parede o retrato de Sua Majestade, jamais, para perpetuar-lhe a lembrança, mãos
humanas lhe tocaram.”Sensibilizado e engrandecido o Imperador, que já
conhecia os antecedentes de Toledo Lima, pela sua generosidade, projeção social
e econômica, prometeu conceder-lhe
o título de Barão do Descalvado, o que realmente aconteceu em 23 de
dezembro de 1887. Despedindo-se ,
caminhou rumo à estação, dando uma rápida entrada na residência do Dr. Anastácio
Vianna, atual Rua Barão do Descalvado altura do nº 300 onde tomou café. Depois
embarcando no trem, dirigiu-se à cidade de Araras onde
pernoitou.
TRENZINHO DA AURORA
–
contruído pela bolsa
fazendeira de Descalvado - 14 km em bitola estreita (0,60 m), ligando Descalvado
ao Pântano e à Aurora;
- Em 1910 o ramal da Aurora
foi vendido à Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sendo desativado no
início da década de 60;
FEPASA - Em 1960 o ramal da Paulista passou para a
FEPASA, Ferrovias Paulistas S/A;
ÚLTIMO TREM - Em 1972 partia o último
comboio de passageiros com destino a São Paulo. Alguns anos mais tarde era
desativado completamente o ramal ferroviário;
HISTÓRIA DA
FERROVIA:
(Gerson Álfio De
Marco)
A Companhia
Paulista de Vias Férreas e Fluviais vinha avançando para os grandes cafezais de
além Campinas e, em 1882, atingiu Descalvado, então Belém do Descalvado.
Organizado com capital proveniente quase que todo dos cafeicultores da
Província, tinha, entre seus acionistas descalvadenses, no tempo, Antonio
Augusto de Bezerra Paes, José Rodrigues Penteado, Dr. Manoel Batista da Cruz
Tamandaré, o Coronel Rafael Tobias de Oliveira e o Dr. Valentim Tobias de
Oliveira. No dia 7 de novembro de 1882, Descalvado recebia, pela primeira vez,
entre grandes festejos, um comboio da Companhia Paulista de Vias Férreas e
Fluviais. Evento de suma importância, no tempo. Era o fim das velhas tropas
transportadoras do café abundante do município, caminho de Santos, exportador. O
trem de ferro seria, desde então, o grande, fácil, rápido meio de transporte
para a produção agrícola do município e para as viagens intermunicipais de sua
gente. Com a chegada do primeiro comboio, inaugurava-se também, a estação da
ferrovia e que fora construída em terreno cedido pelo acionista Dr. Manoel
Batista da Cruz Tamandaré, proprietário da Fazenda Boa Esperança, também
conhecida por Fazenda Tamandaré, em razão do nome de seu dono, de tradicional
família brasileira com ligação com o patrono de nossa Marinha de Guerra, o
Almirante Tamandaré. Na sessão da Câmara Municipal de Descalvado efetuada no dia
26 de setembro de 1882, o Legislativo houve por bem nomear a seguinte comissão
de homens influentes da cidade, para programa e desenvolvimento da festa
inaugural: Dr. Ângelo Pires Ramos, Tenente Antônio Leocádio de Matos, Antônio de
Camargo Campos, Tenente-Coronel José Ferreira de Figueiredo, Capitão Francisco
José de Araújo Lima, Dr. Vítor Meyer, Major Arthur Horácio D’Aguiar Whitaker,
Tenente Antônio José de Araújo, José Elias de Toledo Lima, Frederico Ernesto de
Aguiar Whitaker, Antônio Franco de Arruda e Antônio Gonçalves Correia de Moura,
pela lavoura; Francisco de Paula Carvalho, Gabriel Amâncio Lisboa, Bernardino de
Sena Mota Magalhães, José Nunes da Costa e Manoel Martins de Oliveira, pelo
comércio; e, pelas outras atividades, Antônio Augusto Bezerra Paes, Dr. João de
Cerqueira Mendes, Dr. Francisco José Gonçalves Agra, Dr. Manoel Joaquim da Silva
Filho, João Batista Pereira Marques, Bernardino José da Cunha, José Honório
Pereira de Castro, Jorge Blackburn, Severiano João da Cruz e Zacarias Pereira de
Souza. O Poder Legislativo, nesse ano, estava assim constituído; Major Rafael
Tobias de Oliveira, Presidente; Tenente Antônio Leocádio de Matos, Tenente
Antônio José Soares Fagundes, Alferes Frederico Lima, Alferes Ananias Pereira de
Carvalho, Joaquim Cândido de Almeida Leite e Antônio de Camargo Neves. Nota-se
que um dos edis era integrante da grande comissão de festejos: Tenente Antônio
Leocádio de Matos. À chegada do trem inaugural, espoucaram foguetes e as bandas
marciais Santa Cecília e Recreio da Mocidade (uma, do Partido Liberal; e outra
do Partido Conservador) encheram os ares de músicas festivas. Presentes na
estação ferroviária, além da edilidade, dos membros da comissão, outros homens
de influência do município, fazendeiros, comerciantes, membros das classes
liberais, artesãos, rurícolas, escravos, os alunos do Colégio Catão, de Olímpio
Catão; os primeiros imigrantes italianos, toda a urbe, enfim. Houve os discursos
de hábito, todos inflamados e a focalizarem o significado do transporte
ferroviário, fator irrecusável de progresso e o grande banquete no Clube da
Lavoura e o Comércio, à rua Bezerra Paes, entre as ruas José Bonifácio e Barão
do Descalvado, naqueles tempos ruas do Descalvado, de Boa Vista e das Flores,
respectivamente. Participaram do festivo banquete não somente as pessoas de
expressão de Descalvado, como também os inúmeros visitantes, vindos pela
ferrovia, políticos regionais e homens da administração da companhia. À
noite a Sociedade Dramática Aurora
apresentava, em sua sede, à Avenida Guerino-Oswaldo, então rua do Comércio, uma
das peças de seu repertório. Era o encerramento dos grandes festejos de
inolvidável jornada, já retornado o comboio que havia inaugurado a fase
ferroviária de Descalvado. Anos mais tarde, a bolsa fazendeira de Descalvado,
iria lançar par ao sul do município, os trilhos menores de sua própria
companhia. Era o aparecimento do “trenzinho da Aurora”, moroso, menor, mas que
foi um elemento de alta valia para o transporte do café. Mais tarde a própria
Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais adquiriu este ramal,
incorporando-o a seu acervo. Eram 14 quilômetros de via férrea partindo da sede
urbana e alcançando a estação terminal da Aurora, com parada obrigatória na
estação do Pântano.
O RAMAL DE DESCAVADO (Ralph
Mennucci Giesbrecht)
Ramal de Descalvado –
223,773 – P/RD-12
Cia Paulista de Estradas de
Ferro (1881-1971)
FEPASA ( 1971
-1976)
Data de construção do prédio
– 1883
Histórico da linha:
Em
1.876, a Paulista abria o primeiro trecho, partindo de Cordeiros até Araras, do
que seria o prolongamento de seu tronco. Em 1880, a linha, com o nome de Estrada
do Mogy-Guassú, atingia Porto Ferreira, na mesma época em que a autorização para
cruzar o Mogi e chegar a Ribeirão Preto foi indeferida pelo Governo Provincial,
em favor da Mogiana. A linha, então, foi desviada para oeste e atingiu
Descalvado no final de 1.881, seu ponto final. Em 1.916, as modificações da
Paulista na área entre Rio Claro e São Carlos, na linha da antiga Rio-Clarense,
fizeram com que o trecho fosse considerado como novo tronco, deixando a linha a
partir de Cordeiros como o Ramal de Descalvado. Desde o começo em bitola larga
(1,60m), ele funcionou para trens de passageiros até julho de 1976
(Pirassununga-Descalvado) e até fevereiro de 1.977 (Cordeirópolis –
Pirassununga). Trens cargueiros andaram pela linha até o final dos anos 80.
Abandonado, o ramal teve os trilhos arrancados entre 1996 e 1997m sobrando
apenas o trecho inicial até Araras com seus trilhos enferrujando ao
tempo.
A ESTAÇÃO:
Em 1874, a Paulista começou a se interessar pela Vila de Bethlem do Descalvado,
por sua quantidade enorme de
cafezais. Depois de várias idas e vindas, a Cia, finalmente resolveu
levar os trilhos para lá apenas em 1880, quando se concretizou o fato de que ela
não poderia cruzar o rio Mogi em Porto Ferreira. A construção se iniciou nesse
mesmo ano, mas demorou bastante devido às chuvas torrenciais. Somente em meados
de 1.881 é que se decidiu o local da estação, fora da cidade, em terreno doado
por Manoel Batista da Cruz Tamandaré, proprietário da Fazenda Boa Esperança.
Primeiro foi construído o armazém de cargas, cujos tijolos vieram de
Pirassununga e que abrigaria provisoriamente também o terminal para passageiros;
a alvenaria ficou a cargo do sub-empreiteiro José Pêra. Para não confundir com
duas outras estações que também se chamavam Bethlem, uma na S.P.R. (atual
estação de Francisco Morato) e outra na E.F. Dom Pedro II (a atual Japeri), a
estação foi denominada somente Descalvado. Somente em 1883 é que se construiu o
prédio definitivo para passageiros, prédio este que recebeu o Imperador Pedro
II, três anos depois, honra máxima para uma cidade, na época. A Família Imperial
hospedou-se numa casa na cidade que já foi inexplicavelmente demolida. Uma
reforma na estação, nos anos 10, deu-lhe o aspecto atual. Desde 1891, ela tinha
duas plataformas, a menor delas para embarcar os trens do Ramal Descalvadense,
construído por particulares com bitola de 60 cm, e vendido à Paulista nesse ano.
Ele era conhecido como o “trenzinho”, em comparação com o “trenzão”, da
Paulista, e seguia por treze quilômetros até a estação da Aurora, passando no
meio de fazendas de café. O trenzinho foi desativado em 1960. O trenzão saiu
pela última vez de Descalvado em 31 de julho de 1976m deixando somente trens de
carga que foram minguando até acabarem, cerca de 10 anos depois, deixando a
estação fechada e abandonada até 1.995, quando se iniciaram as obras para sua
restauração pela Prefeitura. Em 1996, os trilhos foram retirados de dentro da
cidade. (Ralph Mennucci Giesbrecht – do seu livro “A Estrada do Mogy-Guassú – A
história dos ramais ferroviários de Descalvado e de Santa
Veridiana”)
O CAPITAL DESCALVADENSE NA
“PAULISTA” (Mário Joaquim
Filla)
A Companhia
Paulista de Estradas de Ferro, depois FEPASA e, em seus inícios, Companhia
Paulista de Vias Férreas e Fluviais, teve, desde os seus primórdios, a
participação do capital do então Belém do Descalvado e concretizada na presença
acionária de seus grandes cafeicultores. Assim, quando nossa cidade foi
alcançada pelos trilhos dessa ferrovia, em 7 de novembro de 1882, esse capital
mantinha-se na lista de acionistas e aumentado, certamente. Mas para
trabalharmos com dados concretos, podemos enumerar os descalvadenses ou homens de presença descalvadense, que
eram co-partícipes do imenso capital da companhia. No ano de 1893 (onze anos
após sermos ponto terminal da importantíssima via-férrea) possuíam ações, na
mesma, entre outros, José Rodrigues Penteado (o da rua homônima), comerciante e
proprietário rural, com a sua Fazenda Santa Rita; Manuel Batista da Cruz
Tamandaré, proprietário da Fazenda Tamandaré e doador do terreno para a ereção
da estação da ferrovia, em nossa cidade; Coronel Rafael Tobias de Oliveira,
proprietário rural de importância, com a sua Fazenda São Rafael e outras, e
figura de relevância de nossa política, no tempo; Dr. Valentim Tobias de
Oliveira, filho deste último e também proprietário rural; Dr. Cândido Ferreira
da Silva Camargo, grande cafeicultor; Elisário Ferreira de C. Andrade,
proprietário da Fazenda Lagoa Alta; Luiz Antônio de Souza Queiroz, proprietário
das Fazendas Palmeiras e Ibicoara; Nicolau de Souza Queiroz, proprietário das
Fazendas Jaguarandi e Bela Aliança; e Dr. Francisco de Aguiar Barros,
proprietário da Fazenda Santa Maria. Num total de 300.000 ações integralizadas e
por integralizar, eram 4.214 ações a perfazerem 1,4% de todo o capital da
Paulista, quase 1,5%, número muito significativo, se lembrarmos que, entre os
acionistas, figuravam, também, grandes fazendeiros da zona de Campinas, do Vale
do Paraíba e do Vale do Rio Pardo, bem como diversos argentários da Capital do
Estado e até alguns estrangeiros, todos com considerável número de ações, num
total de 1.177 detentores dessas mesmas ações. E, nas assembléias gerais, o
capital descalvadense se manifestava através de seus 312 votos. A propósito
destes dados, é interessante lembrar-se que, no referido ano de 1893, participava da
Diretoria da Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais, o Dr. Francisco
Antônio de Souza Queiroz, já fazendeiro em Descalvado e que, na nossa primeira
Câmara Municipal, em 1866, ocupara o exaltador cargo de Presidente, como
candidato mais votado nas eleições inaugurais de Descalvado emancipado. Nesse
mesmo ano o Dr. Francisco Antônio de Souza Queiroz Filho era possuidor de 1.106
ações e tinha direito a 67 votos! Concluindo, tudo isto ( a nossa forte presença
no capital da ferrovia), nas suas primeiras décadas, é uma afirmação
incontestável da grandeza de nossa cafeicultura, naqueles idos. E prova cabal do
afirmado, ao término do século XIX os fazendeiros de Descalvado construíram, por
conta própria, o ramal de Aurora, depois integrado na rede da Paulista.
Dinheiro, muito dinheiro, gotejado de nossos inumeráveis e frutuosos cafezais! E
fazendo o progresso de São Paulo e do Brasil!
O TRENZÃO E O TRENZINHO
(Mário Joaquim
Filla)
Duas palavras constantemente
pronunciadas na Descalvado dos fins do século XIX até fins dos anos cinqüenta: o
trenzão era o trem da Companhia Paulista de Estrada de Ferro (a velha,
tradicional Paulista), de bitola larga, 1,60 metros e que percorria o ramal de
Cordeirópolis (antes Cordeiro), tendo nossa cidade por ponto inicial e,
conseqüentemente, terminal. Trenzinho era o trem da Cia Agrícola Descalvadense, uma
sociedade de fazendeiros que depois vendou a ferrovia para a Companhia Paulista
de Estradas de Ferro, tinha bitola
estreita, 0,60 metros, e que partindo da sede urbana, passava pela
estação do Salto, depois Pântano, alcançava seu término na Estação de Aurora, no
bairro do mesmo nome e que, na história social e econômica descalvadense, foi de
altíssima significação, enquanto o café esteve em seu clímax e, com ele, o
Descalvado agrário. O trem grande atingiu Descalvado no dia 7 de novembro de
1882, conseqüência direta de nosso fastígio agrícola no tempo e que reclamava
esse meio de transportes (o grande meio de transportes do tempo) para os seus
produtos agrícolas, e em especial o café. Falemos, agora, no trenzinho, do
poético trenzinho. Eram quatorze quilômetros de extensão, percorridos,
diariamente, entre os dois pontos extremos: Descalvado e Aurora e com uma
estação intermediária de importância: a do Pântano. Esta distava cerca de 9
quilômetros, ferroviariamente, da sede municipal. O trenzinho, o nosso famoso
“trenzinho da Aurora” (que assim o chamava o descalvadense) partia da Aurora, em
hora antimeridiana e atingia a estação urbana, em sua parte leste, minutos antes
da partida do trem grande, do trenzão da nossa diferenciação vocabular. E,
somente após a chegada de outro comboio de bitola larga, de outro trenzão,
(parte oeste) é que o comboio menor partia para nova viagem e isto em hora
post-meriadiana. A linha férrea Descalvado-Aurora foi construída às expensas dos
proprietários rurais de Descalvado, pelos anos finais do século XIX. A produção
de café dessa zona sul, suleste e sudoeste de nosso município, a maior dele, com
as Fazendas Monte Alverne, Santa Maria, Ibijuba, Bela Aliança, Barão, Santa
Rita, Monte Alegre, Graciosa, Monte Olímpio, São Miguel, São José, entre outras
a carregarem milhares de arrobas para os embarcadouros, foi que fez nascer essa
ferrovia particular, entre nós. Só mais tarde, por volta do fim da primeira
década deste século, é que a mesma foi vendida à Companhia Paulista de Estradas
de Ferro, que compreendeu a importância da mesma, para o seu sistema
ferroviário. Devemos lembrar, a propósito do itinerário do trenzinho que no seu
percurso, entre a estação da cidade e a do Pântano, ele fazia uma rápida parada
nas pequenas estações intermediárias de São José (Fazenda São José) e São Miguel
(Fazenda São Miguel). Ai, havia sempre quem quizesse embarcar ou quem iria
desembarcar e, sempre, uma pequena carga para ser colhida ou para ser deixada.
Não resta a menor dúvida que o trenzinho da Aurora é hoje uma grande saudade
para os que o conheceram, cheio de rurícolas a irem e a virem, cheio de
urbanistas a irem, especialmente, ao Pântano, para um ligeiro turismo no Salto
Dom Lino. Na Aurora e no Pântano, havia, então, afreguezados armazéns de secos e
molhados; na primeira, o famoso armazém de Cândido Chaves dos Santos, o Cândido
Baiano. No Pântano o conhecidíssimo armazém que foi, a princípio de Inácio Ajan,
um sírio muito benquisto em todo o município; e, que mais tarde, passou a
pertencer aos irmãos Marcial e Ari Vilela. Descrevemos para recordar, uma viagem
do trenzinho das muitas saudades: Ei-lo a partir da cidade, conduzido por Jesus
Gonçalves, seu conhecidíssimo maquinista. Lá vai o comboio levando gente e
levando carga para as estações de seu destino e vai margeando as águas plácidas
da Rosária (Córrego da Prata) e onde nadava, bulhentamente, o rapazio do tempo;
lá vai ele margeando as chácaras do Carvalhinho, do Cipriano, atingindo a
Fazenda São José, passando a Fazenda São Miguel, com seu engenho fazendo açúcar,
melado, rapadura e garapa; parando, para “tomar água”, logo após São Miguel,
mostrando a bocaina do Pântano, chegando na Estação do Pântano; parando,
partindo; atingindo as primeiras casas da Aurora, parando, em definitivo, na
Estação da Aurora. Era mais uma viagem do maquinista Jesus e do trenzinho da
Aurora. Da velha, decantada Aurora do armazém do Cândido Baiano, onde
trabalharam, às ordens do dono e do filho do dono, Segismundo Chaves dos Santos
(Dudu Baiano), por muito tempo, em diversos períodos, Manoel Ferreira Gaio,
Abílio Ferreira Ruivo, Gumercindo Dutra, Guilherme Pierobon, Ezequiel Gomes,
Atílio Gomes, Sebastião Adão, José Manzotti (carroceiro); Serafim Brandt de Lima
(motorista); Argemiro Machado e Wolfgang Nothling (guarda-livros); e os irmãos
João Vicente Adorno (Jango), Joviano Vicente Adorno e Antônio da Conceição
Vicente Adorno, este último, depois Secretário da Prefeitura Municipal. Ah,
trenzinho da Aurora, quanta coisa para contar, quanta coisa que nos faz lembrar,
marcha de nossa história, no chão dadivoso de Descalvado! E também aqui, um
lamento profundo, deve ser registrado para a posteridade; não tivesse o
trenzinho sido retirado de circulação quando da extinção da bitola estreita, com
boa planificação, seria um pitoresco e atraente meio de locomoção para visita ao
“Salto do Pântano” que, cedo ou tarde, tem que se preparar, a contento como
atrativo turístico.