MUSEU DO TRANSPORTE PÚBLICO GAETANO FEROLLA




Foi no ano de 1871 que o Engº Nicolau Rodrigo de França Leite, recebeu do Governo Imperial, uma concessão (Por 50 anos). Para construir e operar uma linha de "Diligêcias por Trilhos de Ferro" entre o Largo do Carmo e as plataformas da Estação da Inglesa (Estação da Luz). Não conseguindo arcar com as despesas da construção da linha, transferiu a concessão à Companhia Carris de Ferro de São Paulo. As "Diligencias por Trilhos de Ferro", mais tarde conhecidas como Bondes puxados a burro, foram inauguradas em 2 de outubro de 1872. De imediato obtiveram grande êxito, e respeito por parte da população, agora a cidade dispunha de um serviço de transportes urbanos.

Os bondes minúsculos e estreitos, com três bancos, transportavam 9 passageiros. Existia um bonde maior de cinco bancos, 15 passageiros. O bonde pequeno era tracionado por um animal, o maior era tracionado uma parelha de burros. No final da Monarquia existiam 34 bondes de passageiros e 9 bondes de carga (tração animal) operando na capital de São Paulo. Os bondes operavam as linhas: Liberdade, Mooca, Brás, Marco da Meia Légua, Luz, Santa Cecília, São Joaquim e Consolação.

Em todas as cidades do mundo, os bondes de tração animal estavam sendo substituídos por bondes de tração elétrica. A cidade de São Paulo, também iria efetuar a substituição. A data para a inauguração do Bonde elétrico em São Paulo já estava marcada para 7 de maio de 1900. Esta data é um marco para a cidade, uma nova era que se inicia. Chegou o dia. A população se apinhada ao redor do trajeto aguarda ansiosa o evento. Entre os milhares de pessoas, havia um menino muito atento ao fato, anos mais tarde este menino escreveu uma crônica relatando o fato testemunhado. A Crônica se intitula "O Bonde e a Cidade". O menino seu autor chamava-se Oswald de Andrade

O Bonde e a Cidade

Anunciou-se que São Paulo ia ter bondes elétricos, (...) Uma febre de curiosidade tomou as famílias, as casas os grupos. Como seriam os novos bondes que andam magicamente, sem impulso exterior? Eu tinha notícia pelo pretinho Lazaro, filho da cozinheira de minha tia, vinda do Rio, que era muito perigoso esse negocio de eletricidade. Quem pusesse os pés nos trilhos ficava ali grudado e seria esmagado fatalmente pelo bonde. Precisava pular(....) O projeto aprovado, começaram logo os trabalhos da execução. E anunciaram que numa manhã apareceria o primeiro bonde elétrico. Indicaram-me a atual Avenida de São João como o local por onde transitaria o veículo espantoso.

A cidade tomou um aspecto de revolução. Todos se locomoviam, procuravam ver. E os mais afoitos queriam ir até a temeridade de entrar no bonde, andar de bonde elétrico!

Naquele dia de estréia ninguém pagava passagem, era de graça. A afluência tornou-se portanto enorme. No centro agitado, eu desci a Ladeira de São João que não era ainda a Avenida de hoje. Fiquei na esquina da Rua Libero Badaró, olhando para o Largo de São Bento, de onde devia sair à maravilha mecânica. A tarde caía. Todos reclamavam Por que não vem? Anunciava-se que a primeira linha construída era da Barra Funda, - É pra casa do prefeito! – O bonde deixava o Largo de São Bento, entrava na Rua Libero Badaró, subia a Rua São João, entrava na Rua do Seminário.

Um murmúrio tomou conta dos ajuntamentos. Lá vinha o bicho! O veículo amarelo e grande ocupou os trilhos no centro da via pública. Um homem de farda azul e boné o conduzia, tendo ao lado um fiscal. Uma alavanca de ferro prendia-o ao fio esticado, no alto. Uma campainha forte tilintava abrindo as alas convergentes do povo. Desceu devagar,. Gritavam: Cuidado! Vem a nove pontos! Um italiano dialetal exclamava para o filhinho que puxava pelo braço: - Lá vem o Bonde toma cuidado! O carro lerdo aproximou-se, fez a curva. Estava apinhado de pessoas, sentadas, de pé. Uma mulher exclamou: - Ota gente corajosa! Anda nessa geringonça! Passou. Parou adiante, perto do local onde se abre hoje a Av. Anhangabaú. Houve um tumulto. Acidente? Não andava mais, gente acorria de todos os lados. Muitos saltavam. Rebentaram a trave do lado! Não é nada! Tiraram a trave quebrada. O veículo encheu-se de novo, continuou mais devagar ainda, precavido.E ficou pelo ar, ante o povo boquiaberto que rumava para as casas, a atmosfera dos grandes acontecimentos. Nas ruas, os acendedores de lampião passavam com suas varas ao ombro acendendo os lampiões de acetilenos da iluminação pública.